terça-feira, 7 de julho de 2009

A lua está bonita

Hoje a lua está bonita, como tu, é noite de lua cheia, e desde que me lembro, que me perco a olhar para ela, fica tão bem assim brilhante, amarela, pálida, branca. Olho para ela, para ti, deixo-me levar por ela num turbilhão de imagens, de sonhos e ilusões. E assim fico, esquecido de tudo, sozinho com ela, contigo, imagino um abraço, o nosso abraço. Vejo-a no céu e a ti na terra, ela reflecte a tua beleza, já que o horizonte não permite ver-te, pedi à lua para ser o teu espelho, para me deixar olhar para ti, por ela.

Vinha no caminho a ver a lua, a ti, e imaginei que somos tal como aquela história da águia e do lobo, eu lobo de noite e tu águia de dia, e assim ficamos sem nunca nos ver, apenas na lua te vejo, apenas nela me perco contigo, com ela. A diferença não é muita, mas o suficiente para eu acordar e tu ainda mal teres adormecido, eu adormecer e tu mal teres acordado. Ainda para mais, parece que me deixas, sozinho, não falas comigo, eu falo contigo, com ela, mas o som só viaja numa direcção, e o eco é a mais pura das mentiras.

Não me perdoo de to ter dito, pelo menos tão tarde, devia ter sido mais cedo, antes de qualquer ida tua de volta, com ela, para ela, contigo. Fugiste assim que soubeste, mentira, eu é que fugi, não disse, escrevi cobardemente, como quem tem medo de morrer, quem tem medo de enfrentar a vida, foi assim que te enfrentei, contigo, comigo, com ela. Ela, a lua, deixou-me ficar e viu-te partir, não me disse nada, não me avisou, por outro lado já tu o tinhas dito, já tu me tinhas informado da tua partida, há muito tempo, não é desculpa válida. Eu sabia, e tu não, eu escrevi e tu não, ficas-te a ler, a contemplar o que tinha escrito, e respondes com a razão, aquela que eu perdi faz tempo, tempo desde que te conheci, não a primeira em que te vi, mas a primeira em que falei contigo, com ela.

Apaixonei-me por essa tua vontade, por essa força que tens, pelo teu ser amoroso e solidário, humilde e carinhoso, por toda aquela luz que emana de ti, porque a ti a lua te deu a benção, e a mim apenas o reflexo do que és, apenas uma mísera parte do que representas para mim, para ela. Caeiro disse pensar é sentir, tocar, cheirar uma flor, mas não consigo porque tu não estás aqui comigo, vejo-te, imagino-te, naquele reflexo lunar que me aprisiona a essa luz que emana de um astro que aprendi a amar, um pedaço de terra que brilha no céu estrelado, e que nem as estrelas todas juntas conseguem ofuscar.

A noite está linda, o céu está limpo, a lua está cheia, cheia de ti, de mim, de nós. Consegues ver-me, sentir-me na lua. Eu consigo, ver-te, imaginar-te a olhar para ela, como eu olho, como ela. É tarde, e a noite não me deixa continuar, pede-me vagarosamente que me deite, adormeça e que vá sonhar, contigo, com ela, com nós.

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