Sonho com o dia em que encontrarei aquela felicidade prometida. Já nada me alegra como antigamente. Mais velho, a cada hora passada, um ano desaparece em memórias. Tão distantes, longínquas na minha mente. Por momentos julgo que me vou perder no abismo existente, que foi nascendo e crescendo no meu interior.
Travo batalhas todos os dias, dentro e fora do corpo. Luto contra a sociedade conformada e geradora de caos, mas no fundo estou lutando comigo.
Não sei o que fazer, que dizer, que procurar, anseio por algo que parece destinado a outro. Batalho arduamente, fraquejo e volto a levantar-me, e nada resulta. Se ao menos ela estivesse comigo. Mas quem é ela? Interrogo-me pois parece que não a conheço, e no entanto sei onde mora, o seu nome, os seus olhos tão brilhantes. Nada sei ao certo, a seu respeito. Parece que ela faz de propósito, cria barreiras de aço, impenetráveis, pelo menos para mim. O amor é fodido. Sem nunca o ter sentido, afirmo sem hesitação. È fodido, não ter coragem para lhe dizer, e sofrer a cada segundo por ela.
Vagueio por cidades que penso conhecer, por pessoas que a todas desconheço, mas que pensam que sabem de mim. As pessoas acreditam que sim, que me conhecem, se soubessem a verdade, não sei, se ela suspeitasse sequer. Acho que ela já descobriu, e por isso faz o que faz, bem demais até, afasta-me, afasta-se, e permanecemos assim demasiado longe um do outro. Acho que isso a faz feliz de alguma maneira, sinto que ela tem medo de algo. Do quê? Essa resposta não a tenho. Lanço teorias para o ar, terá ela medo do que a sociedade pode pensar ou dizer? Pressões destas são comuns nas decisões de jovens como ela e eu. Mas eu há muito que deixei de ligar ao que os outros falam, ou imaginam, apenas ela me interessa.
Ou se calhar ama outro, esta então trespassa-me, qual faca na manteiga. Quase me mata de angústia, medo, tristeza, dor. E liberta em mim sentimentos que nunca procurei- ódio, raiva, morte.